Tratamento adequado de saúde mental pode reduzir em até 10% os problemas envolvendo estudantes, aponta pesquisa da UFRGS

Uma pesquisa com estudantes da rede pública de Porto Alegre e São Paulo, realizada por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostra que o não tratamento de transtornos psiquiátricos tem impacto nos resultados educacionais de crianças e adolescentes. O estudo foi publicado por uma revista científica da Universidade de Cambridge, da Inglaterra, em outubro.

O trabalho concluiu que em torno de 5% a 10% de repetências, distorção idade-ano, abandono e prática de bullying poderiam ter sido evitados se os transtornos tivessem sido tratados ou prevenidos. Entre as condições identificadas estão o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), o transtorno de conduta e o transtorno de oposição e desafio (TOD).

O pesquisador da UFRGS Mauricio Scopel Hoffmann, um dos autores do estudo, considera que a saúde mental precisa ser uma das prioridades na educação. O especialista também é professor do departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

“A gente melhoraria esses índices de repetência e distorção idade-série se os problemas de saúde mental fossem detectados e adequadamente tratados e encaminhados ou ainda prevenidos”, diz.

Há diferentes resultados entre meninos e meninas em cada transtorno e cada tipo de impacto. A pesquisa aponta que, entre estudantes mulheres, 10% da distorção idade-série, quando há atraso escolar, poderiam ser evitados com o tratamento adequado.

“Quase 11% das meninas que fazem bullying poderiam não fazer se esses transtornos fossem evitados”, diz o professor.

Nos homens, o estudo observou casos de depressão e ansiedade. “Quase 5% das repetências poderiam ter sido evitadas se não tivesse depressão em meninos”, comenta Hoffmann.

O cientista explica que oito a cada 10 estudantes brasileiros nunca procuraram auxílio médico para eventuais transtornos psiquiátricos.

“Se a gente aumentasse os dois em cada 10 que são tratados para três em cada 10, a gente teria 8 mil repetições a menos em escolas”, sublinha.

Como auxiliar
O professor Mauricio Scopel Hoffmann sustenta que a família e a escola precisam se envolver na questão, a fim de auxiliar as crianças e adolescentes.

“É um problema de todo mundo”, ressalta.

Professores, por exemplo, sabem identificar problemas que acabam não sendo tratados de forma adequada. O especialista defende a integração a partir de iniciativas públicas para tratar do tema nas escolas.

“A escola poderia abraçar este professor e dar um encaminhamento. Se a conexão com o sistema de saúde fosse mais rápida, o encaminhamento seria mais fácil. A identificação é uma parte importante, mas sem poder encaminhar, gera angústia”, avalia Hoffmann.

Os impactos não se limitam apenas à educação, mas a todo o futuro dos jovens, considera o responsável pelo estudo.

“Problemas de saúde mental na infância e na adolescência, que é o período onde as coisas realmente começam, têm consequências de curto prazo na educação e, provavelmente, de longo prazo numa série de outras coisas que dependem da educação, por exemplo, nível socioeconômico, renda, produtividade”, diz o professor.

A pesquisa
O estudo foi originado de uma pesquisa mais ampla do Instituto Nacional de Psiquiatria para o Desenvolvimento da Infância e Adolescência (INPD), que confere o desenvolvimento de transtornos mentais desde a infância. Os pesquisadores realizaram avaliações, coletando diagnósticos, sintomas, parte genética, neuroimagens e realizando testes cognitivos, entre outros.

A pesquisa teve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Conselho de Pesquisa Europeu (European Research Council) e do Newton Fund do Reino Unido, que financiou o pós-doutorado de Hoffman na London School of Economics and Political Science.

Mais informações podem ser consultadas no site Saúde Mental na Escola e na página do Projeto Conexão – Mentes do Futuro.

Leia na íntegra: g1.globo.com